Durante uma semana colei o rabo no sofá, durante largos minutos, para ouvir os nossos extraordinários e sapientíssimos políticos candidatos a uma cadeira almofadada e com espaldar em S. Bento, sabendo que só dois terão o gosto de ser «primeiro». No mínimo estarão estas primeiras figuras sentados no anfiteatro político com computador à frente para mandar e-mails à prima da Malveira da Serra ou ao primo de Caçarelhos. Foi gostoso mas também exasperante ouvirmos notas soltas de bla-blá-blá, em disco riscado.
Então vamos lá a isto.
– Já lá dizia o Papa Francisco… – atira Catarina.
– Ai que bonitinha! Tão franciscana! Gostei! Espanta-me essa sua súbita aproximação ao Vaticano. Merecia um título honorífico. Em vez de Catarina, a Pequena, poderia apresentar-se na campanha como Catarina, a Católica. Lindo, não é? – Zombou o muito católico “candidato da extrema direita”.
No dia seguinte entraram no ringue Rui Rio e novamente André com toda a sua Ventura, a sua metralhadora, Uzi, creio.
– Chegou a chamar-me fascista… Vejam o desplante do dr. Rio. Eu, fascista?!
– Eu disse isso? … Bem… Não me atrevia a dizer uma coisa dessas, mas… que há por aí uns tiques, há! – hesitou Rui que riu.
– Tem de se decidir. Não ando aqui para engonhar. Comigo não há fornicoques. O que é é e ponto final. Se elas querem um abraço ou um beijinho, eu pimba. Estou aqui para subverter a moral social existente. Pimba! – André tinha os dentes bem protegidos, calçava umas luvas pretas e grossas, o ringue era dele, movimentava-se à vontade. – Nós até temos pontos comuns. Quer falar da pena de morte? Quer falar dos ciganos? Quer falar da subsidiodependência? Quer falar dos emigrantes? Quer falar dos pedófilos? Estes, comigo, é castração química. Comigo, põe-se o escroto destes no cepo e zás. Lá vai o coiso para a cesta da gávea. O dr. Rui Rio ou me quer a mim ou quer o António Costa, que é mais escurinho. – Rio riu.-
– Vamos lá ver, isto não é assim. Mas que doidice! Castração química?
– É fundamental, meu caro – Pimba! Já expliquei. Mas se quiser arranja-se um método menos radical, mitigado: primeiro, corta-se a ponta daquilo, depois o meio, a seguir um testículo e depois… depois vai o resto para o cesto da gávea, que o mesmo é dizer que o c…oiso vai para o c… oiso, não sei se me está a perceber. É “trigo limpo, farinha Amparo!.” É como comer queijo.
– Que diabo! – Exclamou Rio já assustado. – Não, não «durmo» com este senhor. Chiça! Este homem é duma instabilidade!… Lá se me vai o meu … Carai! Ele dança o vira, o malhão e o fandango. Prisão perpétua? Bem, aquela coisa da mitigação da perpétua… vá lá que não vá, agora o resto? Oh! Oh! Quilhe-se lá o homem! Cesto da gávea? Chega para lá!
– Mas concorda ou não? – perguntou a “perguntadora”.
– Quer dizer, nunca confiarei nele, nunca dormirei na mesma cama, mas aceito um bilhete para ir com ele ao futebol. Só que já lá não está o Vieira… Não sei se o Costa, o Rui, isto é, o ex-jogador, tem linhas vermelhas… Eu só gosto de laranjas.
Depois vieram outros. Sentaram-se na mesa oval. Catarina olhou para o Rui Tavares como lhe fosse pedir namoro.
– É preciso dar força à esquerda – diz a senhora do BE.
– Mas quem não deu força no orçamento foi o BE!
– O PS não o quis. Recusou todas as propostas do BE. O PS mija-se todo quando lhe falamos em legislação laboral. “António Costa é um obstáculo”.
– Não percebo! É um obstáculo e quer morar na mesma casa que ele?
– Em quartos separados, sim!
– Para quê? Para chamar a polícia, quando não lhe fizer a vontade? “Votar no BE é votar na intransigência”. O BE é um choramingas! À primeira desfeita, está logo pronto para o divórcio. Com o BE é melhor nem ir ao futebol. Não se sabe que equipa apoia.
A propósito de “Costa um obstáculo” Jerónimo foi meigo quando se sentou em frente de António Costa: “ É uma expressão no mínimo infeliz”, disse com açucar. Costa é que não esteve para modas e desatou ali a culpá-lo, também, de tudo o que se estava a passar. Isso não se faz a um companheiro… porque se percebeu-se que o fato do chumbo orçamental foi o Comité Central que o vestiu a Jerónimo, que apareceu triste e abatido, carregando as culpas. Ele estava inocente.
Dias e debates depois a cena é a mais lírica desta tragicomédia. Em cena o Avatar AV e o cometa RT.
– O programa do Chega é uma vergonha. Tem nove páginas, o que é uma ofensa ao país. Não tem nada para oferecer ao futuro. Só apresenta propostas do século XIX: Deus, Pátria, Família e Trabalho. Juntou «trabalho», um sussurro do fantasma do Salazar com quem fez um pacto diabólico. Esclarecendo: do Continente fala zero vezes; da Constituição, zero vezes; do Parlamento, zero vezes; de poluição, zero vezes; de violência doméstica, zero vezes; da Língua Portuguesa, zero vezes. Mas que é isto? Este senhor é do sistema, apoiado pela gente da finança e do futebol.
Ai a política! Que povo quer saber dela? O debate entre catarina e Ventura foi visto por 200 mil portugueses, enquanto, na mesma hora 2 milhões viam o BB dos Famosos! Mama Mia!