Em tempo de Natal falar de Natal e para dizer o quê? Será que o Natal precisa de palavras para ser aquilo que é? O Natal existe por si mesmo. Faz parte do calendário e ponto final, como costuma dizer um amigo meu. Ponto final. Perentoriamente, ponto final. Está lá, ninguém o tira de lá cómodo como está. Cómodo e sustentado pela economia que nunca o deixará morrer. Disse, na última vez que aqui escrevi, que o Natal, o comercial, começou em outubro. Necessidade de dinheiro a quanto obrigas e que só não faz falta a eremitas e seus parentes. Será? Os monges do Tibete não precisarão de ter alguma reserva que lhes dê um extra de consolo?
Hoje, é bem melhor falar em Natal do que em ladrões, dos que roubam milhares e milhões, esses safados que, sendo o que são, colocam na cabeça um aro de santidade, dizendo-se puros de coração e de bolsos vazios do dinheiro dos outros. Mas há quem prefira uns “corninhos”, acrescentando as mesmas palavras de pureza. Tentações demoníacas! Patifes, há-os mais pequenos, sem lucro algum. Falo daquelas almas desorientadas que andaram a destruir os presépios expostos nas ruas de Vila Real. Oh! Que vã glória sem nome! Dizem que o “mal pressupõe uma determinação moral, intenção e um certo fundamento. O imbecil ou bruto não pensa nem raciocina.” Na História há uns maus ou malvados com nome, conhecidos e nomeados, mas estes franganotes praticam a maldade e nunca ninguém os lembrará. São apenas umas merdas com serrim, palha ou estrume na cabeça. E com isso se contentam e se louvam. E para quê gastar «latim» com quem é analfabeto da vida e dos sentimentos?
Voltemos ao Natal que já está connosco. Deixemos falar os poetas que é com eles e deles que as palavras divinas melhor dizem o que há para dizer.
O bom Cristo Jesu é nado,
e humanado,
por salvar toda a gente,
que era perdida e degradada
por o primeiro nosso parente.
(Mestre André Dias, sec. XV).
Do Salvador, que quis compor o mundo tão desarticulado, ontem como hoje, a remissão a expiação e a libertação. Liberdade que Sóror Violante do Céu (séc. XVII) interpreta de outro modo:
Todos dizem, meu Menino,
Que vindes libertar almas,
Mas eu digo, vida minha,
Que vindes a cativá-las,
Porque é tal a formosura
De vossa divina cara,
Que as almas todas cativa
Como corações abrasa.
Às palavras se junta a música em todo o lado. Milhares de canções soam por toda a terra.
Adeste fideles laeti triumphantes
Venite, venite in Bethlehem
Natum videte regem angelorum
Vinde, adoremos
Vinde, adoremos
Vinde, adoremos o Senhor.
E por aqui me fico, com estas poucas palavras. Aqui deixo a todos os leitores desta “Crista na Onda” e deste semanário o desejo de um Santo Natal.