1 – Acabadas as festas de Natal e fim de ano, voltamos ao nosso rame-rame. Depois deste período em que durante quase quinze dias pudemos reflectir sobre o passado, olhar para o presente e tentar perspectivar o futuro, pouco encontrámos a que nos possamos agarrar de consistente, que nos indique estarmos perante algo de novo, no ano que acabou de começar, apesar dos apelos do Presidente Marcelo para que se vire a página, sem, contudo, dizer a que página se queria referir. O costume!
Vêm aí eleições no final deste mês, sem se vislumbrar sequer para que lado estão os portugueses virados: para a continuidade deste Governo ou para a mudança, com novos protagonistas. Os da continuidade anunciam que será para dar seguimento às grandes coisas que foram feitas durante os últimos seis anos. Verdade ou mentira, eles lá sabem o que fizeram de bom. Muitos dirão que de bom nada ou pouco fizeram. Defendem a estabilidade. Os que alimentam a ideia de vir a substituir os governantes que estão de saída, dizem ou prometem que farão melhor e diferente.
Sinceramente não vejo, nem nuns nem nos outros, nada que possa trazer grandes alterações. Pelo menos alterações que possam inverter o rumo recente e nos levem de volta ao progresso que já tivemos, que almejamos e que uns e outros vêm prometendo. Depois, quando chegam ao poder, cada um faz à sua maneira o que muito bem entende, apenas, na maioria dos casos, com um objectivo: ganhar votos e prometer reformas que nunca ou pouco saem do papel. E daí o atraso em que nos encontramos. Aliás, como profetizaram outros protagonistas do passado e agora vemos que estavam cheios de razão. Razão que lhes é atribuída por analistas e antigos políticos insuspeitos, pois eles provêm ou andaram na vida política, defendendo as diversas cores partidárias.
Não vou dizer o que escreveram ou disseram Salazar ou Marcelo Caetano e que corre nas redes sociais, quanto ao que se passaria em Portugal logo que o regime mudasse. Muito menos o que escreveram Eça de Queirós ou Ramalho Ortigão num passado mais longínquo sobre a nossa classe política.
E nem valerá a pena repetir o que disseram outros, igualmente insuspeitos, mais recentemente, tais como Hernâni Lopes, António Barreto, Medina Carreira ou Henrique Neto, apenas a título de exemplo, pois muitos mais houve e há que foram denunciando o que se estava a passar e ainda passa e que nos tem levado à ruina desastrosa. E não só a nível da economia, mas igualmente em termos de atraso tecnológico, redução da natalidade, desastres na educação, na ausência de reformas do Estado e da administração pública, destruição das Forças Armadas, descrédito das principais instituições do regime democrático, com a consequente perda da nossa identidade como nação quase milenar e país respeitado a nível mundial, devido á obra realizada pelos nossos antepassados e por todos os portugueses que verdadeiramente trabalharam desinteressadamente para construírem um país rico, próspero e reconhecido internacionalmente, mas que muitos apenas desejaram governar para se servirem dos seus lugares em seu próprio benefício e apaniguados.
2 – Como é que se governa um país, quando se sabe que necessita de reformas, até saberão o que fazer, mas se deixa correr o tempo sem nada fazer, não enfrentando os poderosos, os sindicatos, para não perderem eleições? Ou para calarem os seus parceiros?
Como é que se deixa que a Segurança Social tenha deixado de receber 22 mil milhões de euros, repito, são 22 mil milhões, aos diversos contribuintes, ao longo de vários anos e nada tenha sido feito para os receber ou exigir, a todo o custo? Será assim tão difícil entender que dessa forma não se pode esperar grande resultado da gestão feita, daqui por meia dúzia de anos?
E as reformas tão necessariamente evidentes na área da Justiça, onde os processos se arrastam por vezes durante mais de uma dezena de anos?
E sobre os gastos imensos das autarquias em tantas obras inúteis e com a admissão constante dos jovens dos partidos, sem qualquer experiência, mas que, uma vez atrás dos balcões, alguns já se sentem os donos dos lugares que os demais cidadãos que lhes pagam para os servirem.
E a dificuldade em encontrar jovens que queiram voluntariamente ingressar na vida militar. A extinção do Serviço Militar Obrigatório, uma exigência da esquerda, foi um dos maiores desastres da nossa história, como de provará num próximo futuro.
E a burocracia que se verifica em todos os sectores, mas de um modo especial na educação, em que os professores, em vez de ensinarem, passam a vida a preencher papeis inúteis. E onde se ensinam matérias escandalosamente ideológicas e sem qualquer interesse para a vida das crianças e jovens, a não ser na tentativa de os formatar para pensarem e agirem do modo que uns poucos desejam e tentam impor?
E a burocracia exigida a todos os cidadãos, mas especialmente às empresas que muito dificultam a sua produtividade, necessária ao nosso crescimento económico e consequente criação de riqueza para ser distribuída por todos com equidade?
E a reforma da administração e gestão do Estado, com a necessária descentralização, redução do número de concelhos e freguesias, sector onde se gasta o que não temos e faz falta para outras necessidades? Há autarquias que já andam há anos a inventar onde gastar as suas receitas.
Depois falta dinheiro na Saúde, nas Forças Armadas, e meios na Justiça e praticamente em quase todos os sectores importantes, para dar aos cidadãos as condições que os nossos políticos prometem sempre nas campanhas eleitorais e nunca cumprem.
A finalizar, gostaria de escrever sobre o que se tem passado na “minha” Marinha. Porém, ainda é cedo. Anda muito ruído no ar. É melhor deixar pousar a poeira que alguns nos tentam atirar para os olhos.