Prontos… está a despesa feita, está tudo comido, salvo o que não se comeu e se deitou no lixo e que dava para mais duas ceias e outros tantos jantares. Viva a dona abastança e o senhor desperdício. Prontos… já se fizeram as trocas de duas camisolas, de dois pares de calças, de livros já lidos ou de autores não apreciados e também de uma série de bugigangas que não serviam para nada e nem se sabia onde as colocar.
Prontos… já passou o Natal e o Ano Novo. Sigamos em frente, a campanha eleitoral já começou, os votos de paz e amor vão ser substituídos por caça a outros votos, carregados de amargura, de descaramento, de desrespeito, de acusações, de falsidades, de inverdades, de ataques pessoais, de indignidades, eu sei lá que mais. A avidez do poder tem estas desordens mentais. Fevereiro e Março que vivem apegados, na mesma rua, ditarão outra ordem de ideias.
Ano Novo. Gostávamos de varrer para o lixo tudo o que de mau aconteceu no ano que agora desapareceu? Rima e é verdade! Gostávamos de conservar só o bom e o bem? Mas isso seria desvirtuar a História Geral e a nossa própria História. Era denegar a vida e aquilo de que ela é feita: de bom, de mau e de bem. Bom e bem não são a mesma coisa ainda que sejam parentes e possam andar de braço dado. As Doce ficaram célebres também por aquela com o título “Bem Bom”. O que se passou, o que passámos fica na memória. É bom ter memória do bem, do bom e do mal para que otimizemos os primeiros e evitemos o último. Será que em cada novo ano pensamos em sermos melhores ou o Ano Novo não passa de uma continuação do «ano velho»? Fizemos a festa, deitámos os foguetes e depois ficou só o cheiro a queimado. E nada floresce das cinzas?
A esperança é a luz que nos guia em cada amanhecer, matizada de várias cores, de vários desejos, que, supersticiosamente ou não, em silêncio, formulamos ao comermos as doze passas no momento em que deixamos para trás o passado e entramos no expresso do futuro.
A vida tem sido dura nos dois últimos anos. Dois anos de pandemia deixaram-nos nervosos, desgostosos, afastados periodicamente uns dos outros, agora, logo, ontem, outra vez hoje. Cada dia era uma incerteza. Dezembro chegou. Incerto era o jantar. Incerta era a viagem além-fronteiras. Incerto era o Natal. Incerto era o fim de ano, aqui e além. Tudo o que era positivo podia estar suspenso. A luz que se vê ao fundo do túnel é de um pirilampo. A esperança hoje … a esperança continua a ser a “nega actividade.” Nunca o negativo mereceu tanto champanhe!