O tema foi muito debatido durante toda a semana passada e mesmo antes, mas nem por isso resisto a alguns comentários sobre a estúpida ideia de alterar os critérios de cálculo do IMI, imposto que incide sobre o património e de um modo especial os edifícios. Só daquela cabeça podia surgir ideia tão desengonçada.
O Secretário de Estado que teve a brilhante ideia de mexer nesses critérios, não teve critério para ver que estava a meter a pata na poça, quando aceitou viajar até França, por duas vezes, à pala da Galp. Isto diz bem da falta de senso de muita gente que nos governa. O homem até pode ser sério, honesto, trabalhador, conhecedor, mas faltam-lhe, pelos vistos outros conhecimentos, talvez muito mais importantes. Quem assim age – e como sabemos não foi o único – parece que não para um pouco para pensar nas consequências dos seus gestos e das suas atitudes. E não estamos a falar de um presidente de junta, de um vereador, de um deputado municipal. Estamos a falar de um governante com poder de decisão sobre assuntos de muitos milhões. Mas como neste país desgraçado assuntos de milhões mal resolvidos e mal esclarecidos é o que não falta, talvez este possa ser apenas mais um. Mas que parece não incomodar outros governantes, que julgam que tudo se resolve com mais um regulamento. Agora é preciso um regulamento para alguém ir ver se esta ou aquela atitude lhe fica bem ou está de acordo com os valores e princípios que devem estar presentes em todas as decisões da nossa vida. A não ser que pensem que os problemas dos outros assuntos que envolvem milhões tenham ocorrido por não haver regulamentos.
Mas voltemos ao IMI. Parece que estão a gozar connosco. E assim sendo, este assunto dá para o gozo, como muitos comentadores fizeram al longo das últimas duas semanas.
O homem podia ter-se lembrado de outros critérios para calcular o IMI. Por exemplo, como alguém me sugeriu, o terraço dar para um outro terraço onde uma viçosa vizinha fizesse topless. E não só ela, mas também as suas preciosas amigas. O que necessariamente lhe aumentaria o valor. Ou permitisse que alguém visse os jogos do Benfica sem pagar bilhete. Ou permitisse que do bar em frente chegassem as cervejas frescas, para ajudar a passar o serão.
É claro que também haveria lugar a descontos. E, quanto a isto, deixo-os com um poema de um amigo de Tarouca, com facilidade para criar quadras gostosas a propósito de qualquer assunto. E por aqui me fico.
“IMI
Do tal Diógenes, na Grécia,
É conhecida a facécia
Que o seu barril rebolava;
Dele fazendo desvio
Conforme o calor ou frio
E sombra ou Sol controlava.
E quando ao Sol se aquecia
Alexandre Magno um dia
Na frente se foi postar,
Pois que tanto o admirava
Que lhe disse que ali estava
Para o auxiliar.
Mas quando o interpelou
– “ Dou-te o que tu me pedires “
Teve que se desviar,
Pois Diógenes ripostou
– “Só quero que não me tires
O que me não podes dar”!
Lembrei-me hoje desta história
Que mantenho na memória
Exemplo de integridade,
E acerca do IMI
Pois coisa igual nunca vi
Apesar da minha idade.
Do Sol nos querem taxar
Sem no-lo poderem dar
Ou tirar a seu prazer,
Quanto às vistas, simplesmente,
Podem construir em frente
E não há nada a fazer.
Tenho exposição solar
Paisagem p’ra contemplar
E tudo vai ser cobrado?!
Mas quando houver nevoeiro
Ou em dias de aguaceiro
Será que isso é descontado?!