Voltamos a este tema, porque a corrente iniciada por um excelso deputado tem já os seus seguidores e promete ter efeitos devastadores.
- Comecemos, outra vez, pelo Padrão dos Descobrimentos. Desta vez, foi Joacine Katar Moreira que, aproveitando o embalo, mamou no biberão que um senhor representante do povo transmontano, no Parlamento, lhe pôs à sua disposição. E ela, sem perda de tempo, insuflou gaz no Padrão dos Descobrimentos e desejou remete-lo para Plutão, que é um astro tão longínquo, desvalorizado e já desclassificado como planeta. O mesmo quer ela que aconteça ao nosso monumento, porque dela não é. E, não o sendo, aquela presença, em frente ao Tejo, de onde partiram as caravelas, belisca-lhe as entranhas nascidas na Guiné-Bissau e magoa-lhe a sensibilidade num sítio onde, se cumpriram nela o costume na sua terra natal, ela não terá.
- Beatriz Gebaltina Pereira Gomes Dias é deputada do Bloco de Esquerda. Para ela, todos os portugueses de hoje deviam bater no peito e dizer, em contrição, “mea culpa, mea maxima culpa” e autoflagelarem-se, como os xiitas, com chicote de pregos, pelos actos dos desbravadores dos mares, que tiraram do «anonimato» os povos por onde passaram. Em vez de heróis, a História devia tatuá-los como assassinos, exumá-los e reduzir a pó as suas ossadas. A História na «versão branca» devia ser substituída pela «versão negra». Esta acólita de Catarina Martins escreveu no último Expresso: “Os monumentos, estátuas e outros dispositivos de cristialização de uma certa memória histórica olham para o passado, mas falam para o presente.” Ou seja: a estatuária é ela própria instigadora de racismo, de desigualdade, fermento de hierarquização e, por isso, podem e devem ser derrubadas para que aos olhos da negritude o ar fique limpo. Diz a deputada: “ Mas a História e a Pátria devem ser discutidas, assim como os monumentos que as contam no espaço público”. Parece que isto é à vontade do freguês, numa espécie de jogo do rapa: rapa – deitamos todas fora; tiramos, pomos ou deixamos segundo a vontade de cada um. Melhor: Joacine em vez de rapar quer katar. As estátuas devem ser como electrodomésticos que devemos substituir porque está avariado ou velho, ou como um telemóvel que se desactualizou.
Ora a encantadora senhora parece só ter Salazar nos olhos A Pátria não é salazarista e não o sendo, não se discute. O território desta Pátria continental tem fronteiras definidas e definitivas, desde D. Dinis, se descontarmos o roubo espanhol de Olivença, em 1801. A História, o conhecimento do passado, está em mutação pelas novas interpretações e, como tal, pode ser discutida, repensada, pode ter uma visão bilateral, mas nunca destruída. Por isso é que Aristóteles dizia que o que é imutável não é histórico e, por isso, a poesia era superior à História. Eu nunca poderei rapar o bigode aos meus avôs, nem nos seus retratos eliminar os chapéus. Percebe-se, não? Identidade é identidade.
- Por mim, são bem-vindos a este país negros ou não, asiáticos, índios astecas, maias ou incas, sioux, apaches, australianos, neozelandeses etc., desde que não venham exigir que a nossa História, Literatura, Música, Arte, Folclore, Usos e Costumes, Gastronomia tenham de ser substituídas pela deles, porque não gostam das pessoas, dos sabores, dos condimentos, dos produtos etc.
- O que é que estas duas deputadas têm em comum? A primeira nasceu na Guiné-Bissau, em 1982. A segunda, no Senegal, em 1971. A ambas Portugal deram-lhes o estatuto de dupla nacionalidade e, por essa via, entraram no Parlamento. Constatação: o país a que chamam de colonialista – porque o foi – e do qual detestam a sua História, acolheu-as, deu-lhes um estatuto e um sustento, que sai dos impostos de todos nós. Principal dever: respeitar o País que fez delas o que são, sem lhes questionar a cultura. Se a um português, nascido numa aldeia das serras de Montesinho, do Alvão, da Estrela ou de Monchique não lhe será admitido que considere Camões um vil escritor que branqueou a História, será que temos de ficar indiferentes perante estas provocações?
- E o que dizem Catarina Martins e Joana Mortágua? Como é que uma senegalesa vem questionar a Pátria portuguesa? Devemos estar atentos a esta onda de intromissão dos bichinhos prateados e das térmitas que querem infestar a nossa História, venha ela de onde vier. Uma coisa podem ter todos a certeza: quem fez História tem sempre presente e sempre terá futuro. Ninguém conseguir apagar a ferocidade dos Hunos, Vândalos ou dos Vikings, etc. O sr. deputado que abriu a caixa de Pandora, que lhe ponha a tampa e sem demora. Caso contrário vai ter um epitáfio «negro» na História, como um tolo que um dia pensou que, derrubando um monumento, se apagaria a História.