Campanhas fofinhas já tivemos durante 46 anos. Agora é altura de campanhas a sério e discurso duro. Os portugueses querem verdade, autenticidade, não querem folclore”
André Ventura
A crer nas palavras do autor da epígrafe, temos vivido um tempo venturoso e sem o sabermos. O 25 de Abril de 1974 foi um aleluia. Pensava eu, tantos como eu terão pensado, que Estado Novo é que apostara na beleza saudável da vida campestre, valorizara, aos fins de semana, os “serões para trabalhadores”, da FNAT, o folclore de Pedro Homem de Mello, o vira, o malhão minhotos, a chula rabela, o bailinho da Madeira, a chamarrita/chimarrita, o pezinho e a sapateira, o «balho» açorianos, o balanceado dos pés do fandango ribatejano, as danças de roda transmontanas, os Pauliteiros de Miranda, os fadinhos e fadunchos do Armandinho, do Marceneiro, da Hermínia, do Fernando Farinha, do fado aristocrático de Teresa Tarouca, dos fados de Maria Teresa de Noronha, do Carlos do Carmo, da Amália, a Rainha, das canções e cançonetas de António Calvário, de Artur Garcia, de Maria de Lurdes Resende, de Madalena Iglésias, Francisco José, Tony de Matos, da Simone de Oliveira, o (perigoso) cante alentejano, etc., ou os populares conjuntos António Mafra, Maria Albertina, entre outros, assim como o pão e vinho sobre a mesa, numa casa portuguesa, com certeza.
Pensava eu que o 25 de Abril nos tinha dado Rui Veloso e o “Chico Fininho”, Jorge Palma, António Variações, o José Mário Branco, uma nova Simone, os Heróis do Mar, Madre de Deus, Táxi, Salada de Fruta, GNR, Clã, Ala dos Namorados, Xutos e Pontapés, Delfins,Sétima Legião, UHF, Mão Morta, Rádio Macau, Capitão Fausto, Amor Electro, etc., e que o fado, Património Mundial, se intelectualizara com novos temas, outros valores, outras vozes que com Amália e depois dela têm levado o nome de Portugal a todo o mundo, a par do futebol e também de Fátima, mas disse André Ventura, no Parlamento, que estes 46 anos de democracia têm sido de folclore e que é tempo de acabar com essas “musiquinhas” ou “musicadas”, talvez, para ele, parolas, e iniciar um tempo de canções sérias, novas letras, novos sons, novos ritmos a rasgar, capazes de lançar a Quarta República xenófaba, castradora, em que a pena de morte faça o seu caminho entre os criminosos.
André é um cantadeiro a solo, não tem par sério, por enquanto, mas vislumbra-se um dueto, trio e, quiçá, um quarteto, não para jogar a sueca, mas para fazerem orquestra de sons metálicos estridentes. O PSD que o diga. Desde Agosto que lhe propõe almoços. No Parlamento, vai haver festa. Não querendo viver dias de folclore, mas usando os temas folclóricos, estimula os potenciais (ou já) namorados ao bate-o-pé:
“Ai bate o pé, bate o pé
Três passozinhos para a direita
Bate o pé
Vê como a gente se ajeita
Bate o pé
Neste passo bem marcado bate o pé
Assim se dança o bailinho”
Na busca de novo caminho
E para reforçar e ajudar
“ Ai bate o pé, bate o pé,
Faça assim como eu…