Por: Ribeiro Aires
A História de Vila Real do século XIX e princípios do século XX é reveladora da sua afirmação política no contexto regional e nacional.
A História local não é só obra daqueles que nascem num determinado território mas é também construída, ou formatada, como hoje se pode dizer, por aqueles que, vindo de fora, nele passaram a residir e a agir para o bem comum ou colocando-se contra essa mesma comunidade, na defesa dos seus interesses pessoais ou com base nas suas convicções.
Sem ocuparmos muito espaço com a referência a muitos nomes, citamos, à laia de exemplo, e para o objectivo que, neste momento, nos norteia, alguns que tiveram um papel preponderante quer a nível local, quer a nível nacional: a nobreza rural e militar dos Silveira Pinto da Fonseca Teixeira, dos Magalhães e Lacerda, dos morgados de Mateus e condes de Vila Real.
Estamos em pleno ano do bicentenário da Revolução Liberal de 1820, cujas comemorações a pandemia veio prejudicar, pelo menos este ano.
Falar da Revolução Liberal de 1820 é dizer que a democracia de hoje, ainda que interrompida entre 1926 e 1974, começou em 24 de Agosto deste mesmo ano. Ao modo de então, no programa inicial do Sinédrio e dos militares, que o apoiavam, estava a realização de eleições para as Cortes da Nação, alargadas ao Brasil. O caminho até 1822 foi acidentado, mas a Constituição foi assinada e validada pelo rei, ainda que contrariado e com forte oposição pela rainha Carlota Joaquina. Mas não é ela que aqui nos traz, hoje.
O 4 é um número com significado na História de Vila Real, neste início do Vintismo. A 4 de Setembro as unidades militares de Chaves e Bragança que pareciam estar ao lado do Tenente General Francisco da Silveira, opositor ao movimento revolucionário, deram o dito por não dito, quando chegaram a Vila Real, declarando-se ao lado da Junta do Porto. Esta inesperada reviravolta desagradou a Francisco da Silveira. Vendo-se só, atraiçoado, pela família e pelos seus soldados, pediu asilo à Galiza, onde ficou a aguardar o insucesso do pronunciamento militar. Em Vila Real, porém, tocaram os sinos a rebate. O povo saiu à rua. Aproveitou o momento e este era a favor da Junta do Porto. Ao povo juntou-se a Nobreza. Ouviram-se vivas a D. João VI, à religião e, pois, à junta governativa. O povo segue os vencedores. Hoje, uns, amanhã, outros.
Seguiu-se depois o 4 de Outubro com outra manifestação geral de alegria, quando se soube que, três dias antes, Lisboa aderira ao movimento revolucionário do Porto, constituindo-se, então, a Junta Provisória do Governo Supremo do Reino», tendo na vice-presidência (até 16 de Novembro) o vila-realense brigadeiro António da Silveira, irmão de Francisco da Silveira. Este facto foi considerado pelos vila-realenses como “memorável acontecimento”. Falta-nos um relato circunstanciado, jornalístico ou de um cronista «literário», fosse da Gazeta de Lisboa, fosse do Correio do Porto. Certamente que, em Vila Real, no Rossio, no Largo do Chafariz ou na Praça Luís de Camões, enfim, no Tabulado a satisfação, se verdadeira, deu origem a festejos exuberantes, como aqueles que ocorreram no 5 de Outubro de 1910 e dias seguintes, quando se soube que o rei D. Manuel II não chegou a Vila Real porque houve a implantação da República.
E já que estamos a falar no número 4, lembramos que o dia mais importante para esta cidade foi aquele em que D. Dinis, em Lisboa, em seu nome e da rainha Isabel, sua esposa, fez “carta de foro para todo o sempre… a mil povoadores,” da sua Villa Real. Era 4 Janeiro de 1289.